terça-feira, 4 de agosto de 2009

Menina Castigadora

Menina sinto o teu castigo na alma,
Como a dor de um golpe no corpo,
Infligida na carne depois de ferida,
Como um Touro que sofre em corrida.

Num ápice consegues subjugar-me,
Mesmo que tu assim não o queiras,
Sem que o sintas, acabo por ti cair...
Num golpe, vê o meu sangue sair!

O teu olhar felino ruge emoção,
Tal como numa emboscada perigosa,
Nos territórios vastos de um Leão!

Serei eu a tua presa dócil e saborosa,
A caminho do teu encalce de predação?...
Ou serás apenas tu uma coisa maravilhosa?!...

terça-feira, 28 de julho de 2009

Mar

Sinto que agora oiço novamente,

Nestes breves momentos,

Quebrarem-se nos meus levitados pensamentos...


As ondas de um mar, uma após a outra…

Vêm uma a uma desfazendo-se na areia

Em mil palavras cheias de espuma.


Soturna e serena

Uma voz amena

Que em mim, volve e devolve…


O silêncio, a calma e a recordação…

Trazida numa saudade de outrora!

Existe um mar escrito nos nossos lábios!...


E o seu sal é um poema recitado num beijo.

Adormecidos nos poços profundos…

Os sonhos em silêncios mudos.


Esperam uma hora para acordar as suas memórias

Líquidas guardadas na esperança futura retida

Num olhar meigo e inocente de uma criança!

(Dedicado a Filipa que hoje faz anos, à qual, desejo que faça quantos muitos e daqui envio muitos beijos!)

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Que Vozes Nos Embalam No Vosso Mar, Sereias?!...

Nesta legislatura, assistimos todos com agrado, o aparecimento de novas figuras no parlamento e, com especial atenção para a ala feminina do vasto leque partidário, se assim podemos designar. O que por si só, sem referência à Lei da Paridade em especial, dado que, a mesma irá ter efeitos nas próximas eleições, que se seguem depois de já ter entrado em vigor.

Mas, ainda assim é com especial relevo, que vemos que no sector entre as mulheres, têm tido especial destaque nos trabalhos parlamentares como deputadas e feito jus perante a maioria de deputados masculinos a diferença de género e leitura. Para lá do Parlamento, outras figuras femeninas destacam-se também! O que vem enriquecer e dar um ar de frescura à política, pois, assim fica muito mais interessante e faz com outros rostos apareçam!

Neste últimos tempos, temos visto encher os nossos ecrãs de televisão ou de computador, através da Internet, em várias páginas de informação, as vozes dirigentes de diversos partidos. Começando pela líder do PSD, a sua presidente, Manuela Ferreira Leite, que tem demonstrado firmeza nas suas opções e convicções ideológicas, no sentido alternativo a esta maioria no poder. Outro rosto surgiu hoje, entre as hostes sociais-democratas, que promete também fazer furor neste verão, com a nomeação de Isabel Meirelles (jurista, professora universitária e especialista em assuntos europeus), como candidata do PSD dá Câmara de Oeiras, nestas eleições autárquicas.

No outro campo, da maioria socialista, temos assistido a uma guerra interna, sobre a discussão de duplas candidaturas, protagonizadas por rostos já conhecidos, como de Ana Gomes, Elisa Ferreira. Maria de Belém Roseira conjutamente com Sónia Sanfona recentemente, tem tido imenso destaque, através das posições assumidas entre os partidos assentes na Assembleia sobre a redacção do relatório da comissão de inquérito ao caso BPN. Apesar de loiras as duas, revelam que os seus neurónios não são dessa cor e, que para além disso, têm mostrado peso político nas questões essenciais. Surge agora, outro rosto na cena política, embora já tenha dado provas de ser capaz neste âmbito, Teresa Caeiro, deputada e do CDS-PP e ex-governadora civil de Lisboa, vem agora assumir uma voz dirigente na bancada parlamentar.

Outras figuras femininas da política nacional, ultimamente mais eclipsadas, é a deputada Ana Drago e Joana Amaral do Bloco de Esquerda. Na bancada socialista, a deputada Marta Rebelo, que também protagonizou alguns episódios da política caseira. Outra voz, ainda que interviniente na imprensa mas, afastada da política activa é Maria José Nogueira Pinto, que semanalmente nos brinda com os seus artigos no DN. Ainda, assim, ficam a faltar muitas outras vozes, talvez por algum défice de notoriedade mediática mas, é evidente que o surgimento de cada vez mais, vêm dar um novo alento e outra imagem à nossa concepção da política, pelas ideias, pelo o seu toque, pela sua perspectiva... e o seu encanto!

Publicado, também na Voz de Alcanaitra e Pêndulo Critico

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Quem Pegará A Bravura Da Tua Sorte Investida?!...

Quando falas dizes asneiras porque não és político.
Não és político porque o teu gesto assim não o diz!
Bem, poderias fazê-lo de outra forma,
Mas por instinto não o quiseste...
Para todo público na bancada te acusar!...

Tornaste-te num risco acidentado...
Imprevisível a todo o momento.
Irascível... arrombas as tábuas
Numa sorte dada na arena.
Bem poderás lamentar
Mas este palco é cruel!
Nem todos poderão subir a este palco,
Nem todos estão ao seu alcance!...

Quem pegará a bravura da tua sorte investida?
Quem irá tomar-te nos braços?
Quem pegará a tua sorte investida?...
Quem terá peito para te segurar?!...
Quem irá pegar o teu touro selvagem?

Diz-me quem te cercou?
Pois, foi uma cernelha bem feita.
Na cegueira do momento,
Deixaste-te cair no encalce.
Na sorte espetaram o ferro,
Quando tu investiste!

Quem pegará a bravura da tua sorte investida?
Quem irá tomar-te nos braços?
Quem pegará a tua sorte investida?...
Quem terá peito para te segurar?!...
Quem irá pegar o teu touro selvagem?

É preciso sentir o sangue,
Nas tuas veias correr!...
Corre... olha o cavalo a correr.
Vira-te... vê o público aplaudir!
Corre... o teu coração não pára.
Segue... Não olhes para traz!
Corre... o momento é triunfal.
Olha... está a chegar o teu fim!

Quem pegará a bravura da tua sorte investida?
Quem irá tomar-te nos braços?
Quem te olhará no teu estado selvagem?...
Quem estará ao teu lado a correr na lezíria?
Quem pegará a bravura da tua sorte investida?...
Quem amansará o teu gesto sentido?
Quem irá pegar o teu touro selvagem?
---*---
Poema escrito por mim, inspirado na versão traduzida da canção "Who's Gonna Ride Your Wild Horses" da banda U2, em memória dos acontecimentos sucedidos ontem no debate do "Estado da Nação". Penso que o gesto pode ser caricaturizado, sem o intuito de ofensa.

Publicado, também, em: "Voz de Al Canaitra" e "Pendulo Crítico".

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

VOZES DO MAR

Quando o sol vai caindo sobre as águas

Num nervoso delíquio d'oiro intenso,

Donde vem essa voz cheia de mágoas

Com que falas à terra, ó mar imenso?...


Tu falas de festins, e cavalgadas

De cavaleiros errantes ao luar?

Falas de caravelas encantadas

Que dormem em teu seio a soluçar?


Tens cantos d'epopeias? Tens anseios

D'amarguras? Tu tens também receios,

Ó mar cheio de esperança e majestade?!


Donde vem essa voz, ó mar amigo?......

Talvez a voz do Portugal antigo,

Chamando por Camões numa saudade!


Florbela Espanca

Poesia CompletaLisboa,

Publicações Dom Quixote, 2000

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijam

Como se tivessem boca,

Palavras de amor, de esperança,

De imenso amor, de esperança louca.





Palavras nuas que beijas

Quando a noite perde o rosto,

Palavras que se recusam

Aos muros do teu desgosto.





De repente coloridas

Entre palavras sem cor,

Esperadas, inesperadas

Como a poesia ou o amor.





(O nome de quem se ama

Letra a letra revelado

No mármore distraído,

No papel abandonado)





Palavras que nos transportam

Aonde a noite é mais forte,

Ao silêncio dos amantes

Abraçados contra a morte.


quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Palavras Líquidas

Submersas estas palavras deste poema, escrito nas águas mornas de um ribeiro que passa.

A cor das metáforas são transparentes das palavras líquidas...

E a prosa que deriva no leito, serpenteando por entre os seixos despidos...

O ribeiro corre na poesia do poema, mas nos meus olhos,
Estes versos escrevem-se nas lágrimas de um choro fluvial...

Escrevendo, sinto-me mergulhar pelo poema abaixo...

E as folhas das árvores são fragmentos de sonhos perdidos e dispersos...

Valsando por entre as sombras.

Flutuando entre as metáforas transparentes e as palavras submersas,



Oiço subitamente uma voz ao longe que me faz acordar de um sonho...
Vejo-a emergir das águas com o corpo e a alma despida...
A imagem nítida da Musa dos meus sonhos.




Com as palavras e metáforas cintilando sobre a pele nua...
Vejo-a chegar-se perto, aproximar-se cada vez mais de mim...
Chamando-me através dos gestos escritos nos lábios e nos dedos...
Entrando por minha alma, possuindo-me!...

Mergulhando dentro do meu corpo... beija-me!...

Entre os meus braços flutuando... consome-me!...

Nadando p'lo meu peito... ama-me!...



quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O QUINTO IMPÉRIO

Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz –
Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!

E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será theatro
Do sai claro, que no atro
Da erma noite começou.

Grecia, Roma, Christandade,
Europa – os quatro se vão
Para onde vae toda a edade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?

Fernando Pessoa, Mensagem (O Encoberto - 3ª parte)

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O Tigre (William Blake)

"The tyger, parte de Songs of Innocence and of Experience, de Willam Blake, é um dos poemas ingleses mais conhecidos no mundo luso, e por isso mesmo um dos mais traduzidos. Contudo, ninguém conseguiu vertê-lo melhor que o português Vasco Graça Moura, que merece, por seu trabalho como crítico, poeta e fantástico tradutor (da Divina Comédia, dos Sonetos de Shakespeare, por exemplo), o título inexistente de “Jorge de Sena do nosso tempo”. Apesar de tudo o que é evidentemente perdido em qualquer tradução de poesia, a mim parece sumamente filisteu não admitir que, em certos trabalhos excelentes, muita coisa é recuperada e, por conseqüência, uma obra em língua estrangeira pode passar a ocupar um lugar na nossa língua. Os anglos nunca foram bobos e sempre consideraram as traduções dos salmos por Miles Coverdale parte de seu cânon; e Samuel Johnson disse que as traduções dos clássicos feitas por Dryden e Pope “afinaram” a língua inglesa de tal modo que, depois delas, nunca mais apareceu um poeta que não captasse sua melodia. Tenho a impressão de que, no caso do português, foi Camões quem prestou este serviço.
Uma boa tradução de um grande poema em língua estrangeira também traz, além das possibilidades sonoras, certas possibilidades imaginativas. As obras em língua portuguesa parecem ser muito amigas do realismo e da intimidade, talvez pela influência francesa; já na Inglaterra parece que sempre houve mais amor por tudo que parecesse exótico e fantástico. De fora, posso dizer que não me espanta que um poeta como Blake tenha surgido ali, mas duvido muito que Blake gostasse de ser considerado “mais um poeta fantástico”, já que ele parecia levar muitíssimo a sério tudo o que escrevia – uma atitude que, curiosamente, pode ser desdenhada por muitos autores mas que parece garantir mais longevidade às obras do que seu contrário.
Songs of Innocence and of Experience trata de dois aspectos da criação: de um lado, o que é pequeno, inocente, frágil e belo por sua delicadeza, tendo como símbolo o cordeiro, o “anho” (palavra que pouco usamos no Brasil), que remete obviamente ao menino Jesus. De outro, aquilo que é majestoso e tremendo, tendo como símbolo o tigre. O poema “The tyger”, aparecendo na segunda parte, Songs of Experience, complementa The lamb (“O anho”) nas Songs of Innocence, poema em que Blake afirma candidamente ao cordeiro com quem dialoga que Aquele que o criou também chama a Si mesmo “cordeiro”; daí que, diante da força do tigre, ele prefira apenas perguntar: “fez o anho e fez-te a ti?” (“did he who made the lamb make thee?”). Estes dois aspectos da existência – reluto em falar de “arquétipos” para evitar qualquer associação com o Dr. Jung – estão simbolizados por duas estrelas que estão a praticamente 180 graus uma da outra: Aldebaran, o “Olho do Touro”, e Antares, “o Coração do Escorpião”. Ainda que hoje elas estejam próximas dos pontos norte e sul, por causa da precessão dos equinócios, há coisa de 5000 anos marcavam os pontos leste e oeste, daí sua associação com o início e o fim das coisas – o ponto leste marca a primavera e o oeste o outono – , e também com certos mitos. Hoje as estrelas não têm mais personalidade, e são tratadas genericamente apenas pelo nome de “estrelas” (assim como para mim, nascido e crescido na cidade, só existem “árvores”), mas é muito difícil achar que Blake, no século XVIII, não tivesse considerado um simbolismo tão antigo, ainda mais considerando os pendores que tinha para estas considerações. (A propósito: se você for pesquisar estas estrelas, vai ver que elas também foram associadas a anjos; mas saiba que o Judaísmo e o Cristianismo só reconhecem oficialmente os nomes de três deles, Miguel, Rafael e Gabriel; pronuncie por sua conta e risco os demais nomes, porque podem ser de anjos caídos, e dizer um nome é invocá-lo.)
Ao ler o poema, atente para seu ritmo bem marcado: um dos maiores feitos de Vasco Graça Moura é fazer com que consigamos ouvir o original mesmo na tradução. Os poemas de Blake são exemplos extremos de como a infidelidade à métrica na leitura pode fazer com que grande parte do efeito final seja perdida – e a leitura da poesia será o tema do próximo texto dominical." Pedro Sette Câmara


« Soneto à Carolina
O tigre de William Blake
April 8th, 2007 by Pedro Sette Câmara in Domingo com poesia,
Tradução: verso William BlakeTradução de Vasco Graça Moura,

(Lisboa: Quetzal Editores, 2005).


tigre, tigre, chama pura
nas brenhas da noite escura,
que olho ou mão imortal cria
tua terrível simetria?

de que abismo ou céu distante
vem tal fogo coruscante?
que asas ousa nesse jogo?
e que mão se atreve ao fogo?

que ombro & arte te armarão
fibra a fibra o coração?
e ao bater ele no que és,
que mão terrível? que pés?

e que martelo? que torno?
e o teu cérebro em que forno?
que bigorna? que tenaz
pro terror mortal que traz?

quando os astros lançam dardos
e seu choro os céus põem pardos,
vendo a obra ele sorri?
fez o anho e fez-te a ti?

tigre, tigre, chama pura
nas brenhas da noite escura,
que olho ou mão imortal cria
tua terrível simetria?